Elefante Branco: Arena Amazônia mostra suas falhas na partida de abertura

O primeiro jogo da Arena Amazônia, no domingo: ocupação parcial (Edmar Barros/Futura Press)O primeiro jogo da Arena Amazônia, no domingo: ocupação parcial (Edmar Barros/Futura Press)

O público que lotou o anel inferior do novo estádio viu falhas de acabamento, poltronas sujas de cimento, paredes apenas com reboco e baldes para aparar água de goteiras 
"Se o Amazonas tem competência para construir a Arena Amazônia, com certeza terá competência para não deixar que ela se transforme em um elefante branco. O mais difícil não é dar destino a ela, o mais difícil é construir e nós conseguimos". O discurso do governador amazonense, Omar Aziz, antes de Nacional x Remo, que inaugurou a Arena Amazônia, no domingo, deixa evidente a preocupação com a maior ameaça que paira sobre o estádio de Manaus para a Copa do Mundo.
A preocupação do governador em tirar a pecha de elefante branco do estádio se justifica pelo valor necessário para fazer a manutenção da estrutura. Se faltarem eventos no estádio, ele dará prejuízo. O governador também avisou que a arena ainda não estava em condições absolutamente ideais. "Ainda teremos muitos defeitos nesta obra, então não adianta achar que está tudo perfeito. E foi para isso mesmo que fizemos este teste, porque a obra é complexa e já tem condições de uso. Se não usarmos, não vamos inaugurar nunca", disse Omar Aziz.
Construída a um custo estimado de 669 milhões de reais para receber quatro jogos da primeira fase da Copa, a Arena Amazônia tem capacidade para receber 44.000 torcedores. Por ser um evento-teste, o jogo de domingo teve apenas 23.000 torcedores, boa parte deles operários que trabalharam na obra e seus familiares. O público que lotou o anel inferior do novo estádio viu falhas de acabamento, poltronas sujas de cimento, paredes apenas com reboco, baldes para aparar água de goteiras e ar-condicionado que não funcionava nos camarotes, entre outros problemas.
O governador já prometeu realizar novos eventos-teste antes de entregar a Arena Amazônia à Fifa, que assumirá a administração do local durante a Copa. A presidente Dilma Rousseff esteve na Arena Amazônia no dia 14 de fevereiro para uma inauguração informal da obra. Neste domingo, porém, aconteceu a abertura oficial do estádio. Em campo, o amazonense Nacional recebeu o Remo no jogo de volta das quartas de final da Copa Verde e, com o empate de 2 a 2, acabou sendo eliminado pelo time paraense. Agora faltam três estádios: o Itaquerão (São Paulo), a Arena Pantanal (Cuiabá) e a Arena da Baixada (Curitiba). 

Pesquisa VEJA: o brasileiro e a Copa-2014

Imagem negativa

Nas duas questões, os porcentuais foram iguais. Em 2011, pessimismo era menor: 79% achavam que a Copa deixaria uma imagem negativa e 78%, que os estrangeiros teriam má impressão.

Dinheiro público e atrasos

A oposição à construção ou reforma de estádios com dinheiro público era menor há três anos: 85%. A descrença num legado concreto para a população também cresceu — de 68% para 87%.

Decepção e corrupção

"Corrupção" segue sendo o termo mais associado à Copa. Mas "decepção" cresceu na lista: de 12% em 2011 para 17% agora. O porcentual de pessoas ansiosas pelo evento subiu de 75% para 85%

O governo na mira

Cada vez mais gente relaciona o governo aos problemas do evento. Em 2011, 79% o apontavam como culpado por um possível fracasso; agora, já são 94% (essa questão era de múltipla escolha). 

Preocupação e vergonha

A satisfação com a realização da Copa no país caiu de 27% há três anos para 14% agora. Para 55%, o evento é motivo de vergonha — em 2011, só 31% dos entrevistados assinalaram essa opção.

Pior que as outras Copas

Na comparação com Alemanha-2006 e África do Sul-2010, o Brasil tem desvantagem cada vez maior. Antes, 51% achavam que nosso Mundial será pior que o último. Agora, 66% têm essa opinião.

Os protestos e a seleção

A pergunta sobre os protestos é a única novidade em relação à sondagem anterior. E a confiança na seleção foi o único aspecto que melhorou desde 2011: 29% apostam no hexa (antes eram 17%).
O que ficou só na promessa para o Mundial

Estádios privados

O ministro do Esporte do governo Lula prometia uma Copa totalmente privada, sem uso de dinheiro público nas arenas. Entre as doze sedes do Mundial, porém, só três (São Paulo, Curitiba e Porto Alegre) são empreendimentos particulares - e mesmo essas obras dependem de financiamento de bancos estatais e generosos incentivos públicos.

Revolução na infraestrutura

A Copa foi usada como pretexto para a discussão de projetos há muito sonhados - como, por exemplo, o trem-bala que ligaria São Paulo ao Rio de Janeiro, possivelmente com extensões aos aeroportos de Cumbica e Viracopos. Os palcos da abertura e da final do Mundial, no entanto, seguem sem ter essa ligação rápida e prática.

Aeroportos modernizados

Há investimentos no setor, mas eles são muito mais tímidos do que o governo insiste em anunciar. Levantamento da ONG Contas Abertas mostra que, até abril, a Infraero utilizou apenas 18% dos recursos previstos neste ano para melhorias e obras nos aeroportos. Num ranking de qualidade com 142 países, nossos aeroportos estão na 122ª posição.

Transporte público de qualidade

Na Matriz de Responsabilidade, documento que lista os compromissos da União, estados e municípios em relação à Copa, a previsão inicial era de um investimento total de 11,9 bilhões de reais em projetos de mobilidade urbana nas doze cidades-sede. Com o fracasso de pelo menos seis projetos, 3 bilhões de reais foram cortados.

Combate ao supérfluo

O governo falava em realizar uma Copa dentro das possibilidades dos brasileiros, sem despesas desnecessárias. Essa cautela, porém, não existiu. O Tribunal de Contas da União (TCU) conseguiu identificar gastos excessivos em obras de mobilidade urbana, estádios, aeroportos, portos e telecomunicações. Sua atuação provocou economia de 600 milhões de reais.

Seis pontos vulneráveis do Brasil em 2014

Dores de cabeça nos aeroportos

No decorrer da Copa das Confederações, muitos visitantes reclamaram das falhas na infraestrutura aeroportuária brasileira. Em sedes como Belo Horizonte e Rio de Janeiro (Galeão), deram de cara com aeroportos em obras. Em Salvador, viram um terminal ficar cheio d'água após um temporal. E em quase todas as sedes, sofreram com pequenos transtornos que já viraram rotina para os passageiros brasileiros - e que fazem a experiência de voar no país ser muito mais desagradável. Exemplos: a constante troca de portões de embarque, que faz o viajante zanzar de um lado para outro nos momentos que antecedem o voo, e a longa espera nas esteiras de retirada de bagagens. Além da baixa qualidade dos serviços oferecidos em muitos aeroportos brasileiros, há um outro obstáculo para a Copa: ela está marcada para um período do ano em que muitos aeroportos, principalmente no Sul e no Sudeste, ficam fechados por causa da neblina. Garantia de fortes emoções para quem tiver voos marcados para os dias de jogos em Porto Alegre, Curitiba, São Paulo (Congonhas) e Rio de Janeiro (Santos Dumont).

Deficiências da aviação civil

Não é só na infraestrutura física que o setor aéreo preocupa. O secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, disse que o Brasil tem de oferecer voos em melhor número - e com melhores rotas - entre as doze sedes do Mundial. Referia-se às maratonas que os funcionários da entidade, torcedores, patrocinadores e correspondentes estrangeiros enfrentaram para se deslocar de uma cidade para outra entre as partidas, com constantes escalas em aeroportos como Brasília, Rio e até São Paulo, que nem sequer fazia parte do mapa da Copa das Confederações. As principais companhias aéreas do país dizem que estarão prontas para atender aos visitantes e dar conta da demanda em junho e julho de 2014. A responsabilidade é grande: com as longas distâncias entre as sedes (e a falta de alternativas encontradas em outros países, como os trens de alta velocidade), a aviação será a forma de deslocamento mais comum entre as cidades. Durante um mês, os voos entre as doze sedes ficarão totalmente lotados - e terão de funcionar como um relógio para não atrapalhar a vida dos envolvidos no megaevento.

Formas de acesso às arenas

Os poucos turistas estrangeiros que vieram ao país para a Copa das Confederações logo constataram um problema comum na vida do torcedor brasileiro: nem sempre o acesso ao estádio é prioridade dos dirigentes e autoridades. Se nas grandes arenas dos países desenvolvidos há diferentes opções para ir ao jogo - o público costuma se dividir entre metrôs ou trens, ônibus e uso do carro particular -, algumas das sedes deixaram a desejar pela falta de alternativas (combinada, aliás, à localização pouco conveniente de algumas arenas). O caso mais emblemático é o de Recife, com um estádio distante demais, com apenas uma estreita via de acesso e com poucas vagas de estacionamento - ir de carro, portanto, é para poucos. Restava o metrô, mas a estação que serve à arena é distante, forçando o torcedor a pegar mais um ônibus para chegar. A viagem foi longa, mais de uma hora a partir da região onde estão concentrados os hotéis da capital pernambucana. Fortaleza, uma das principais sedes tanto em 2013 como em 2014, também deixa a desejar nesse quesito, preocupando os organizadores.

Hotelaria pouco desenvolvida

O Brasil está longe de ser um dos principais destinos turísticos do mundo. Em decorrência disso, sua rede hoteleira nem sempre está à altura das expectativas dos visitantes. Na Copa das Confederações, pelo menos duas delegações reclamaram dos hotéis em que foram hospedadas, por falhas no serviço ou nas instalações. Os uruguaios, por exemplo, não gostaram de descobrir que seu hotel no Recife não tinha nem sequer uma sala de ginástica. Tiveram de ir procurar uma academia. E essa é a vida de quem fica nos hotéis escolhidos pela Fifa. Mais imprevisível ainda será a experiência dos turistas que tiverem de ocupar os quartos de estabelecimentos defasados e mal conservados, outro problema recorrente nas sedes. O investimento no setor é alto para o ano que vem. Ainda assim, os representantes da Fifa sabem que, se em número total de leitos o Brasil promete dar conta do recado e abrigar todos os visitantes, nos quesitos qualidade e atendimento ainda há muito a melhorar. Para piorar, existe o temor sobre o aumento repentino e abusivo das diárias cobradas no decorrer do período de disputa da Copa.

Baixa qualidade de alguns serviços

O ministro Aldo Rebelo costuma dizer que o brasileiro é tão caloroso e simpático que transformará a estadia dos estrangeiros no país durante a Copa numa experiência sempre agradável e sem sobressaltos. Na prática, porém, não é bem assim. O setor de serviços se desenvolveu muito nos últimos anos, mas ainda está longe de atingir o grau de aperfeiçoamento dos países em que há maior fluxo de turistas. Nos hotéis, nos restaurantes, nas lojas e nos táxis, o visitante acabará, em algum momento, sofrendo nas mãos de funcionários pouco capacitados. Para complicar, ainda há a barreira do idioma, que persiste principalmente nas cidades pouco acostumadas a receber grandes números de estrangeiros. É um problema de difícil solução - e que reflete bem o atual estágio do Brasil na escala do desenvolvimento econômico. Falta pouco tempo para o Mundial, mas a qualificação e o treinamento de quem receberá os visitantes em 2014 devem estar entre as prioridades de quem pretende aproveitar a realização do evento para sair lucrando. Além disso, é um investimento que renderá mais frutos no futuro.

Segurança não só nos estádios

Trata-se de uma preocupação que cerca o evento desde que o Brasil foi escolhido para receber a competição, em 2007. Naquela ocasião, os questionamentos sobre a violência urbana no país provocaram enorme irritação no então presidente da CBF, Ricardo Teixeira, que chegou a responder de forma ríspida aos jornalistas estrangeiros que o questionavam na sede da Fifa. Conforme o próprio cartola brasileiro afirmou na ocasião, a enorme maioria dos países tem de lidar com a criminalidade, de fato. A contagem regressiva para a Copa, porém, transcorre em meio a um clima de preocupação crescente com os índices de crimes. As cidades que receberão a abertura e a final, São Paulo e Rio, enfrentam cenários alarmantes. Para complicar o quadro, a mobilização das forças de segurança em torno das arenas - ainda mais em caso de instabilidade social, como na Copa das Confederações - faz com que os contingentes policiais e militares tenham de se desdobrar em múltiplas funções. Haverá policiamento suficiente para manter o perímetro de segurança dos jogos e ao mesmo tempo proteger os visitantes nas cidades?
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