Pouco depois de chegar ao velório do marido, o cinegrafista da
"Band" Santiago Andrade, na manhã desta quinta-feira (13), a assistente
social e diretora de creche Arlita Andrade disse ter pena dos dois
suspeitos de envolvimento no caso.
"Todas as crianças que
passaram por mim [na creche] não foram violentas. Tenho muita penas
desses dois rapazes", declarou, antes de ser interrompida pelo abraço de
um amigo.
Santiago morreu nesta segunda (10), quatro dias depois de ser atingido
na cabeça por um rojão, em uma manifestação contra o aumento da tarifa
de ônibus, no Centro do Rio de Janeiro. Ele está sendo velado no
Cemitério do Caju, na Zona Portuária da capital fluminense, desde as
8h20. A cremação está prevista para o meio-dia.
A mulher de
Santiago fez um apelo aos repórteres que cobrem o velório, muitos deles
colegas e amigos do cinegrafista: "Queria pedir a todo mundo: por favor,
sejam mais amigos, sejam mais tranquilos, tenham amor um pelo outro".
Arlita também falou sobre como lidava com o trabalho do marido. "Eu
falava: 'poxa, amor, faz alguma coisa mais leve'. Aí ele falava: 'eu
gosto de tiro, porrada e bomba'. O sonho dele era ser repórter
cinematográfico."
Amigos comentam
Santiago "era um cara bem alegre, que brincava com todo mundo" e que não gostava de cobrir manifestações, segundo
Edeilton Macedo, cinegrafista da Band há 13 anos. "Ele era muito
precavido, cuidadoso, mas tinha até medo de cobrir protestos. E olhe que ele também cobria conflito em morros", disse Macedo.
O cinegrafista conta que quando chega ao prédio da emissora olha para o
lugar onde o colega e amigo costumava sentar quando estava na redação.
"Não dá pra acreditar. Acho que minha ficha ainda não caiu", disse. "Eu
trabalhava no período anterior ao dele. No dia que aconteceu [6 de
fevereiro], antes de chegar na Band, ele desviou do caminho dele para me
dar carona e me deixar em casa."
O diretor nacional de
jornalismo da Band, Fernando Mitre, não poupou críticas aos chamados aos
manifestantes. "Não se pode imaginar que um grupo de mascarados seja
representante de alguma coisa legítima", declarou. "Não vamos descansar
enquanto não se fizer o jornalismo crítico que precisa ser feito. Tem
que se descobrir o que está por trás disso", afirmou.
Imprensa internacional destaca morte de cinegrafista atingido por rojão no RJ
O portal de notícias "MSN" da Nova Zelândia deu destaque nesta
segunda-feira (10) para a morte encefálica do cinegrafista da "TV
Bandeirantes" Santiago Andrade, 49, alvejado por um rojão durante os
protestos contra o aumento das passagens de ônibus, no Rio de Janeiro,
na semana passada Reprodução
O jornalista lamentou a morte do cinegrafista e disse que ela foi "uma
tragédia que poderia ter sido evitada caso algumas providências tivessem
sido tomadas". "É lamentável que haja uma tragédia para se tome
providências."
Prisões
Na madrugada desta quarta-feira (12), a Polícia Civil do Rio
prendeu o homem suspeito de acender o rojão que atingiu Santiago, em
Feira de Santana (BA), a cerca de 100 quilômetros da capital baiana,
Salvador. Ele confessou que acendeu o rojão que matou Santiago.
No domingo (9), o tatuador Fábio Raposo,
22, que admitiu à polícia ter entregue o rojão para Caio, teve mandado
de prisão temporária cumprido por policiais da 17ª DP (São Cristóvão),
que investiga o caso. Os dois estão presos no Complexo Penitenciário de
Gericinó, em Bangu, na zona oeste do Rio. Caio foi levado, nesta quarta,
para a cadeira pública José Frederico Marques. Já Fábio está desde
domingo na cadeia pública Bandeira Stampa.
De acordo com o
delegado Maurício Luciano de Almeida, que preside o inquérito, os dois
foram indiciados por homicídio doloso (quando há intenção de matar)
qualificado pelo uso de artefato explosivo e crime de explosão, que
somados podem resultar em pena de 35 anos de reclusão.
0 Comentários