O Supremo Tribunal Federal acolhe na sua folha de salários
uma evidência de impunidade. Chama-se Ítalo Colares de Araújo. Ex-gerente da
Caixa Econômica, carrega sobre os ombros um par de condenações por desviar para
contas de familiares R$ 3 milhões em verbas do FGTS. Pegou 7 anos de prisão por
peculato e 14 anos de cadeia por lavagem de dinheiro.
Deve-se a revelação ao repórter Vinicius Sassine. Ele conta
que a última condenação imposta a Ítalo é de 2009. Desde então, a Justiça tenta
encontrar o condenado para intimá-lo a cumprir a pena. O diabo é que Ítalo
enfiou endereços falsos dentro dos autos. Por isso, jamais foi achado.
Esconde-se, ironia suprema, na Praça dos Três Poderes, em Brasília.
Ítalo dá expediente (a)normalmente na Seção de Recebimento e
Distribuição de Recursos do STF. Ingressou no tribunal após ser aprovado em
concurso público para técnico judiciário. Deu-se em 2000, um ano depois de ter
sido demitido da Caixa Econômica por conta dos desvios que praticara no FGTS.
Em novo concurso, prestado em 2003, Ítalo foi promovido a
analista judiciário. Hoje, recebe contracheque mensal de R$ 11,3 mil. Já bateu
ponto até na presidência do Supremo, na gestão do ex-ministro Maurício Corrêa,
morto no ano passado. Passou também pelos gabinetes do ex-ministro Eros Grau e
de Marco Aurélio Mello.
Mais recentemente, Ítalo foi convidado a prestar serviços no
gabinete de Teori Zavascki, penúltimo ministro a ser indicado por Dilma
Rousseff. Refugou o convite, segundo ele próprio conta, para evitar
constrangimentos. Sobre os desvios, Ítalo declara: “Meu erro foi corrupção
passiva. Era muito novo, errei, envolvi a minha família. Mas não houve
peculato, não houve desvio de dinheiro público.”
A pena de 7 anos por peculato é de 2000. O condenado
recorreu ao TRF-1, sediado em Brasília. O processo permaneceu na gaveta até
prescrever. A sentença de 14 anos por lavagem de dinheiro é de 2009. Como Ítalo
vem logrando driblar o Judiciário escondendo-se atrás de endereços falsos,
jamais foi cumprida.
Os bens de Ítalo encontram-se bloqueados. Mas o dinheiro
desviado nunca retornou às arcas do FGTS. Correm contra o ainda servidor do STF
uma ação por improbidade e oito processos de execução de dívida originários de
decisões do TCU, que também atestou os desvios. De resto, como não pagou
imposto, Ítalo responde por crime contra a ordem tributária. E continua dando
expediente no Supremo.
A presença de Ítalo na folha da Suprema Corte faz dele o
protagonista de uma história fantástica passada num país inacreditável. Uma
história bem brasileira.
Com Josias de Souza
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