Orkut, quem diria. O serviço web que já foi sinônimo de rede social
no Brasil e que muitos consideravam extinto, resiste bravamente. Em uma
conversa com meu amigo Rodolfo Viana eu soube, com razoável surpresa,
que ao completar 10 anos de existência ele ainda tem 6 milhões de
usuários ativos, empenhando cerca de 25 minutos por visita.
Por mais que o número seja uma sombra do que teve a rede social de
telas azul-calcinha antes de ter sido atropelada pelo azulão do
Facebook, ele não é irrisório. Maior do que o Twitter e com cerca de
três vezes mais usuários do que o Linkedin, o Orkut perde por pouco para
o Google+, rede-mãe que faz de tudo para dizimá-lo.
Desde que a Índia se rendeu ao Facebook, brasileiros representam
cerca de 90% dos usuários do Orkut. Preferido entre usuários mais
velhos, mais humildes ou residentes em regiões mais distantes dos
grandes centros metropolitanos, ele é, para muitos, a porta de entrada
para a Internet, fazendo sucesso em um país com cerca de 80 milhões de
usuários de redes sociais, perdendo apenas para a China, Estados Unidos e
Índia.
Mas o que essa gente faz por lá? A resposta não poderia ser mais
simples: comunidades. Painéis egocêntricos e centros de exibicionismo,
Facebook, Foursquare, Instagram e Twitter funcionam bem para mostrar que
seus usuários frequentam locais descolados e pertencem a círculos
exclusivos. No Orkut, fazendo jus ao componente social da rede, o grupo é
mais importante do que o indivíduo, e todos estão por ali para ajudarem
ou serem ajudados.
Comunidades são a base da Internet. Muito antes de surgirem as
páginas da web, fóruns e grupos de discussão eram ferramentas essenciais
para usuários da rede global. Até hoje, quando alguém precisa de uma
dica ou recomendação, a resposta costuma estar nos grandes painéis de
opinião, acessíveis em qualquer busca. Quem nunca precisou de um driver
de instalação ou uma dica para um videogame que conteste.
Fóruns digitais, no entanto, não são fáceis de montar. Serviços
como PHPbb e outros fóruns, por mais amigáveis que sejam, envolvem algum
conhecimento de bases de dados e de moderação de usuários. Para quem o
conhecimento técnico vai pouco além do YouTube, eles são inacessíveis.
No Facebook os grupos são restritos, visíveis apenas por convite ou para
quem já faz parte de uma rede de contatos. É quase impossível ser
ajudado por um total desconhecido. No Orkut a arena é pública, aberta a
todos, no momento em que quiserem.
A iniciativa atual do Google, Google+, não faz muito sucesso entre
gente comum. Por mais que seu marketing teime em dizer o contrário, ele é
uma comunidade de nicho, e tende a continuar assim. No máximo, uma
camada social que incorpora os diversos serviços da empresa em uma só
plataforma, mais um ponto de conexão do que uma rede. Para qualquer
startup, o tamanho de sua comunidade seria digno de orgulho. Para quem
quer destronar o Facebook, é ridículo.
Pinterest, Instagram, Waze, WhatsApp e Tinder surgiram em um vácuo
provocado pelo tamanho e condição genérica do Facebook, cada um
promovendo funcionalidades específicas de grande valor para seus
usuários, como o fazem as comunidades do Orkut. O Google+ não tem nada
de diferente, tanto que seus conteúdos de maior sucesso são as páginas
que disponibiliza...no Facebook. Ele é muito mais fácil de usar do que
foram as iniciativas fracassadas do Wave e do Buzz, mas ainda está longe
de mostrar sua serventia. Por enquanto mais parece uma alternativa para
quem detesta o Facebook, mas não pode viver sem suas funcionalidades.
Outras empresas compradas pelo Google tiveram o mesmo destino
funesto do que suas iniciativas próprias. Gowalla e Dodgeball, que
poderiam ter redes de geolocalização, foram abandonadas quase com o
mesmo ímpeto com que foram adquiridas. O fundador do Dodgeball,
desiludido com o Google, recriou a experiência de sua comunidade no
FourSquare, e deu certo. Jaiku, outra empresa comprada e abandonada pelo
Google, tinha boa parte das funcionalidades do Twitter.
É estranho, porque, ao mesmo tempo o Google tem uma boa experiência
com arenas de discussão. O Google Grupos é um dos mais ativos serviços
de debate entre pessoas de interesses comuns. Em seus arquivos estão os
registros de debates na extinta Usenet desde 1981. Mas seu acesso não é
fácil nem presente no cotidiano da rede social.
Patinho feio da rede, o Orkut aos 10 anos não vira príncipe, mas
pode envelhecer com mais dignidade do que MySpace, Friendster ou
GeoCities, seguindo humilde a resolver problemas de gente descolada bem
no momento em que mais precisem, mesmo que nunca o reconheçam.
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