Quatro padres estão afastados de suas funções eclesiais no
Estado sob acusação de pedofilia. A informação foi confirmada ontem pela
Arquidiocese da Paraíba. Além dos casos dos municípios de Pitimbu e Jacaraú,
que chegaram ao conhecimento público, outros dois – de João Pessoa e Mamanguape
– também foram denunciados. O caso de Jacaraú, até agora, é o mais escandaloso,
pois, segundo o promotor de Justiça, Marinho Mendes Machado, o padre Adriano
José protagonizava orgias com adolescentes dentro da casa paroquial. Ele pagava
para que adolescentes tivessem relações sexuais com ele. Os jovens contaram que
recebiam entre R$ 30 e R$ 100. Alguns eram infratores, com registro de
apreensões por roubo de motos e arrombamento de casas, conforme o promotor. O
padre foi afastado da igreja em 31 de outubro de 2013 e o caso foi informado ao
Vaticano.
O promotor responsável pela investigação do caso de Jacaraú
disse que as investigações começaram há cerca de seis meses. Segundo Marinho
Mendes, o padre da cidade é natural do município de Bezerros (PE) e estaria
refugiado em Santa Catarina, na residência de um religioso.
20 vítimas até ontem - As investigações começaram há seis
meses. A promotoria calcula que pelo menos 20 adolescentes estão envolvidos no
caso, mas este número pode ser maior. Dez deles já prestaram depoimentos. O
padre Adriano José atuava na paróquia de Jacaraú há quatro anos.
Bebidas e cabarés - “Em seus depoimentos, todos os
adolescentes confirmaram que bebiam bastante com o padre, ganhavam roupas,
calçados e praticavam orgias. Eles andavam muito para cidades vizinhas, como
Nova Cruz (RN) a 20 km de Jacaraú, e frequentavam motéis e cabarés. Eles saíam
num veículo lotado. Andavam até em festas públicas em outros municípios. Vamos
tentar fazer uma parceria com o Ministério Público para propor ações de
indenização a favor das vítimas”, declarou o promotor Marinho Mendes. A pena
para o crime pode chegar a 12 anos de reclusão em regime fechado.
Religioso presenteava jovens - O caso chegou ao conhecimento
da Promotoria porque a comunidade soltou um jornalzinho denunciando a situação
entre novembro e dezembro de 2013. “O padre veio a João Pessoa e pediu
afastamento porque estaria passando por problemas pessoais. Em seguida, foi
preso um grupo de adolescentes e maiores que estavam praticando furtos na
região, e os objetos encontrados pertenciam à casa paroquial. Após ouvirmos
cinco menores, eles confirmaram que os objetos eram presentes do padre, e
contaram toda a história. Entramos em contato com a Arquidiocese que,
imediatamente suspendeu as atividades dele”, relatou o promotor Marinho Mendes.
O promotor acrescentou que o inquérito está em fase de
conclusão. “Em seguida, vamos entrar com denúncia-crime e o pedido de ação de
indenização. O inquérito policial deve ser concluído em até 30 dias.
Prisão pode ser decretada - O padre Adriano José ainda não
foi ouvido, e a Promotoria vai oficiar a Diocese para que diga onde ele está e
o oriente a prestar esclarecimentos. Mesmo que ele não seja localizado, o
processo vai ter andamento e a prisão poderá ser solicitada. “Após a conclusão
do inquérito, vamos oferecer as ações penais”, disse Marinho Mendes, explicando
que uma das razões que autorizam a prisão é a ausência do acusado. “Mas, ele
ainda não está acusado formalmente. Está sendo indiciado. Só após a ação penal,
vamos formalizar a acusação”.
O promotor afirmou que os fatos são profundamente
lamentáveis e constrangedores. Para ele, a Igreja falha durante a escolha dos
padres para ordenação. Nesse período, conforme analisou, é possível descobrir a
conduta psicológica de cada um, problemas de desvio de personalidade. “Nós não
temos preconceito com a opção sexual de ninguém. Entretanto, estavam
acontecendo orgias pagas dentro da casa paroquial. Havia ainda grande consumo
de aguardente. Isso é crime, principalmente acontecendo dentro da casa
paroquial”, observou.
Marinho acrescentou que falta vocação a alguns padres, que
encontram uma fuga na religião. “Um cidadão que é reprimido, às vezes, por uma
família inteiramente conservadora, se refugia dentro de um seminário, numa casa
de formação religiosa, para se libertar de sua família, mas cai numa grande
armadilha. No meu entendimento, a pessoa já nasce assim, o que vai ser revelado
mais tarde. Se não for bem trabalhado, passa da esfera de uma opção para
aberração. Ao receber a função de padre, com acesso a veículos, boa casa, ele
se perde na caminhada”, concluiu.
Vigário: Igreja age com rigor - O vigário-geral da
Arquidiocese da Paraíba, monsenhor Virgílio Bezerra de Almeida, disse que a
igreja tem agido com rigor em todos os casos que chegam ao conhecimento da
direção. Segundo ele, a orientação do Papa Francisco é que, toda denúncia seja
encaminhada à autoridade civil (Ministério Público no caso do País) para apuração.
“Se chegar ao nosso conhecimento pediremos a abertura de investigação, havendo
ou não pronunciamento da família da vítima”, afirmou. Na última terça-feira, a
Arquidiocese encaminhou ofício ao MPE, solicitando apuração do caso de Pitimbu.
Ao tempo em que encaminha o caso às autoridades civis, a
igreja abre um processo interno para apurar se o sacerdote feriu a Lei
Canônica. Segundo o monsenhor Virgílio, sendo comprovado o crime, a
Arquidiocese encaminha o caso ao Vaticano, pois só o papa tem poder para
julgar. O vigário disse ainda que o resultado da investigação feita pela igreja
independe do resultado da investigação civil. “Já tivemos casos no Brasil em
que o padre foi inocentado pela Justiça mas foi punido pela igreja”, comentou.
O monsenhor Virgílio disse que os casos de pedofilia não são
numerosos quanto parecem e que a pedofilia está em toda a sociedade. “Todos os
dias vemos inúmeros casos acontecerem dentro de residências, entre familiares.
A questão é que, quando acontece na igreja, ganha mais notoriedade”, afirmou. O
vigário defendeu o celibato, que determina abstenção dos padres de
relacionamentos conjugais. Sobre o afastamento dos padres, disse que é uma
prática da igreja para proteger os fiéis e uma proteção ao sacerdote. “Quando o
fato é denunciado não significa que já esteja provado o crime. Não podemos
permitir uma condenação pública prévia, antes da investigação”, concluiu.
fonte:Correio da Paraíba
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