A aposentada Josefa
Sabino, de 76 anos, é conhecida pelo apelido de Dodô e também por uma
paixão que guarda em seu quarto e vem desde a infância: as bonecas. São
centenas de tamanhos e modelos variados, bem vestidas e penduradas na
parede. A roupa delas também é a itaporanguense que produz.
Dona Dodô começou a
coleção aos 60 anos, quando comprou um exemplar e passou a receber
doações, mas grande parte do que tem hoje veio do lixo: um dos seus
filhos trabalhou na limpeza urbana de Itaporanga e todo o pedaço de
boneca que encontrava ia para as mãos da mãe e era reaproveitado.
Juntando peça por peça, consertando aqui e ali, ela conseguiu criar
muitas e belas bonecas. Reaproveitando materiais descartados
reconstruiu, principalmente, sua própria infância, perdida pela pobreza e
pelo trabalho muito cedo, o que era comum naquele tempo.
Transformou sua casa em
uma oficina de bonecas, a qual dedicou boa parte do seu tempo: o que era
lixo ganhou vida nova pelas suas mãos. Também é costumeiro receber
bonecas quebradas de vizinhos ou de gente de longe e deixá-las novinhas e
bem trajadas. A aposentada mora com uma filha no conjunto Chagas
Soares, em Itaporanga, e chama atenção pelo grande carisma: é tão
risonha quanto suas próprias bonecas. Nunca se amargurou por ter sido
deixada pelo marido: depois dele, teve outros relacionamentos e mais um
filho.
O apego às bonecas está
relacionado à sua infância pobre e rural. Viveu durante muito tempo no
sítio Capim Grosso. “Desde menina que eu gosto de boneca, mas meu pai
não tinha condições de comprar nenhuma pra mim, e eu não tinha com o que
brincar, então fazia minhas bonecas de pano, quando encontrava algum
retalho, mas sempre quis uma boneca de plástico”, relembra. Um desejo
que só pode realizar depois de idosa.
Hoje ela perdeu a conta
de quantas bonecas tem, mas diz que sua coleção já foi bem maior. Também
atualmente já não se dedica tanto ao conserto de suas queridinhas,
embora, de vem em quanto, alguém bata à sua porta com uma bonequinha
quebrada ou precisando de roupa. “É uma coisa que dá muito trabalho”,
comentou a idosa, que muito se orgulha de suas calungas e dorme rodeada
por elas.
Ultimamente, começou a
doar bonecas a crianças que, como ela, não tem com o que brincar e
pretende, até o final da vida, presentear muitas crianças.
folha do vali
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