Os governos do Brasil e da Espanha vão firmar nesta terça-feira (11) um acordo que permite a transferência de conhecimento na área de transplante de órgãos entre os dois países. A ideia do Ministério da Saúde é preencher lacunas existentes no sistema brasileiro de doação de órgãos e dar os primeiros passos para a criação de uma política pública voltada à formação de profissionais.
A cooperação técnica prevê o envio de brasileiros a Espanha para atuação em hospitais, onde aprenderão técnicas não aplicadas por aqui. Há previsão também da vinda de especialistas da Espanha. As ações se iniciam em 2015.
O governo brasileiro manteve desde 2004 um convênio informal com o país europeu, que permitiu o envio de até oito profissionais por ano para um treinamento específico na área.
De acordo com Heder Murari, coordenador do Sistema Brasileiro de Transplantes, agora, uma das prioridades será adquirir mais informações sobre transplantes de intestino, primeiro passo para a realização da cirurgia multivisceral – a mais complexa do sistema digestivo por envolver a substituição de vários órgãos de uma só vez.
Por ano, segundo o ministério, são registrados dez pedidos de transplante de intestino, a maioria em crianças (70%). “É uma lacuna que temos no nosso sistema. Muitas crianças precisam dele e o Brasil nunca o realizou em larga escala”, disse.
Ainda sobre as doações multiviscerais, o Brasil vai firmar em breve parceria com duas instituições, uma dos Estados Unidos e outra da Argentina, para que profissionais sejam trazidos desses países e auxiliem em operações deste porte. Segundo Murari, os acordos devem ser assinados em breve.
A primeira vez que este procedimento ocorreu no Brasil foi em maio deste ano, quando o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo atendeu um homem de 33 anos, que recebeu estômago, duodeno, intestinos, pâncreas e fígado. No entanto, ele morreu por complicações registradas no pós-operatório.
Técnica do coração parado
Outro interesse do Ministério da Saúde na parceria com a Espanha é na técnica chamada "morte circulatória", que consiste no uso de um equipamento que atua como um coração artificial em casos de óbito por parada cardíaca. O método mantém a irrigação corporal por mais algumas horas, até que os órgãos aptos para doação sejam retirados.
No Brasil, a captação de órgãos só acontece quando a morte cerebral é constatada e há autorização da família para a doação. A intenção do ministério não é implantar de uma só vez o método, mas testá-lo em um projeto piloto que seria implantado em alguma capital.
“A técnica reduziria a fila de espera pelo transplante de pulmão, que normalmente fica danificado quando o doador permanece internado por muito tempo e tem a morte encefálica constatada”, explica.
Autorização da família ainda é entrave
De acordo com o ministério, no primeiro semestre deste ano foram realizados 11,4 mil transplantes. Desse total, 6,6 mil foram cirurgias de córnea, 3,7 mil de órgãos sólidos (coração, fígado, rim, pâncreas, rim/pâncreas e pulmão) e 965 de medula óssea. Em 2013, o Brasil fechou o ano com 23.457 transplantes realizados.
Mesmo com mais de mil equipes distribuídas pelo Brasil e 400 unidades prontas para atuarem nessa área, ainda há uma grande dificuldade em aumentar números no país: a falta de autorização da família para a cirurgia.
“O índice de doação no Brasil é de 13,5 por milhão de pessoas. Na Espanha, é de 37 por milhão. Queremos melhorar nossa gestão e chegar a 30 por milhão de pessoas”, finaliza Murari.
G1
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