Há pouco mais de oito anos tudo parecia apenas uma brincadeira nas areias da praia de Tambaú. Vários adolescentes se encontravam para brincar de futebol americano. Tudo muito amador. Não havia equipamentos, árbitros, nem muito menos campeonatos organizados. Parecia que aquilo seria só mais uma febre de verão que com o tempo ficaria apenas nas lembranças. Mas a coisa foi tomando corpo, amistosos passaram a existir e em 2007 aconteceu o primeiro Campeonato Paraibano de Futebol Americano de Praia. Era só o início da “dinastia fantasma”. Hoje, o João Pessoa Espectros é referência no esporte e já conquistou a Superliga Nordeste de Futebol Americano cinco vezes, sendo quatro seguidas, e é o atual vice-campeão brasileiro da modalidade. E qual é o segredo de todo esse sucesso? O GloboEsporte.com/pb conversou com Guto Sousa, presidente da equipe, para entender como uma brincadeira de praia virou algo tão sério.
Presidente da equipe pessoense desde janeiro deste ano, Guto tem mandato até o fim de 2015, com a possibilidade de uma reeleição. Ele disse que um dos motivos para o Espectros ser a força que é hoje, foi o fato de ter sido o primeiro time a migrar das areias para os campos. Com isso, os atletas que quiseram dar sequência no esporte se juntaram aos fantasmas e fez com que a equipe ficasse cada vez mais forte.

Porém, para que o resultado venha dentro de campo, o trabalho nos bastidores é árduo. Segundo Guto, a média do custo mensal do time é de aproximadamente R$10 mil. Além disto, os jogadores ainda precisam ser sócios de uma Associação do time e arcar com a mensalidade de R$ 25. Cabe aos atletas ainda, a compra dos equipamentos necessários para praticar o futebol americano. Em contrapartida, o clube tenta arcar com os gastos de treino (bolas, água e afins), algumas viagens, hospedagens, além de uma parceria com uma academia de ginástica (onde os atletas têm bolsa integral).
Apesar da organização, Guto afirma que o Espectros hoje ainda não é autossustentável. Ele usou o exemplo da viagem para Curitiba no último domingo, onde o time enfrentou o Coritiba Crocodiles e acabou perdendo a decisão do Brasileiro da modalidade.
- Não somos autossustentáveis. O maior exemplo foi a viagem para Curitiba que tivemos que fazer campanhas na internet, vaquinha na internet, pedágio em sinal. A gente conseguiu patrocinadores de última hora. O que a gente recebe de patrocínio da para pagar os custos básicos de treinamento e uniforme e ajuda em algumas viagens – explicou.
Porém, Guto aponta um possível culpado pelo déficit financeiro do clube nesta temporada: o veto do Estádio da Graça. Em 2014, o time foi impedido de jogar na Graça, onde costumava mandar seus jogos na temporada 2013. Com isso, a equipe foi forçada a jogar no Estádio Teixeirão, em Santa Rita, o que fez com que a arrecadação da bilheteria fosse menor.
Jogar em João Pessoa nos ajudaria muito mais
Guto Sousa, presidente do clube
- Jogar em João Pessoa ajudaria muito mais. Em 2013 que a gente jogou aqui em todos os jogos, menos a final, e a gente teve uma media de público de 700 pessoas, com um ingresso custando em média 7 reais, já dá 5 mil por jogo. Em média nosso custo por jogo varia de 1.500 a 2 mil reais, um evento simples. A média de custo por jogo é um pouco maior de que 2 mil reais. Se a gente tivesse uma receita de 5 mil, a gente teria um lucro de aproximadamente 3 mil reais para cada jogo. Fizemos três partidas em casa este ano, ou seja, teríamos chegado ao final do ano com 9 mil reais em caixa, enquanto a gente chegou menos 5 mil reais, é uma diferença de 14 mil reais – criticou.
E o fato de não ter dinheiro sobrando em caixa, faz com que não haja um investimento ainda maior no time, como a contratação de um jogador estrangeiro. Guto aproveitou também para esclarecer um boato que ronda o Espectros, de que o time não seria a favor da contratação de um jogador de outro país.
- Muita gente acha que tem isso (não querer contratar um estrangeiro), a gente desde 2012 faz planejamento para contratar um estrangeiro e este ano a gente chegou muito perto. Por um detalhe, na última semana a gente não conseguiu. Nossa filosofia não é essa. A gente sabe que se você escolher bem o atleta ou técnico estrangeiro, ele vai colocar seu time em outro patamar. O que a gente poderia ter pago a um estrangeiro, a gente pagou a um psicólogo que acompanhou o time, porque a gente acha que ano passado o fator psicológico pesou na decisão – afirmou.
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Expansão da marca para outros esportes
Além do sucesso no Futebol Americano, o Espectros agora se aventura em outro esporte. Neste ano, o time lançou sua equipe de basquete feminina. E no primeiro ano, já está colhendo os frutos. Na quinta-feira, as meninas do Espectros se sagraram campeãs paraibanas ao derrotar a equipe da Facisa pelo placar elástico de 81 a 18. Guto explicou os motivos para expandir a marca do time.
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- Confira uma galeria de fotos da trajetória do Espectros
- Na verdade o que aconteceu com o basquete, foi um projeto em conjunto com Federação Paraibana de Basquete, de conseguirmos colocar um time da Paraíba na Liga de Basquete Feminino de 2015. A gente conseguiu fechar uma parceria com o Unipê que foi essencial. Lá a gente treina todos os dias, o que é importante, conseguimos academia, fisioterapia, fisiologia. Isso tudo por conta deles, isso é uma realidade que nem times grandes conseguem. Até agora, a parceria tem dado bons resultados. A gente já tem torcida a gente quer levar a nossa torcida do futebol americano para o basquete e o pessoal vai começar a gostar para que possa acontecer esse projeto, que é ter um time na LBF em 2015 – explicou.

E apesar de parecer um sonho distante, Guto acredita que há reais possibilidades da Paraíba ter um time na principal competição de basquete feminino do Brasil. Porém, o presidente não quer entrar na LBF para fazer feio. A ideia é disputar já no primeiro ano uma vaga nos playoffs. Mas Guto sabe que a missão não é nada fácil.
- Com o elenco de hoje, entraríamos para ser últimos, apesar da base boa, mas ainda o nível é abaixo. A gente não quer entrar para ser o último, não faz sentido, não queremos realizar desejos pessoais de cada um, as pessoas que vão realizar o sonho do Espectros, que é inspirar as pessoas. Não temos condições ainda para sermos campeões, mas a gente já tem um planejamento no papel, com tudo direitinho, o nível de atleta que precisamos pegar, que salários podemos arcar, para podermos tentar no primeiro ano quem sabe brigar por uma vaga nos playoffs. O Sport de Recife, por exemplo, tem um orçamento de 2 milhões anuais. A gente sabe que para os playoffs, precisa de pelo menos R$ 600 mil anuais, e só conseguiremos isto com o apoio de empresas. A LBF tem no mínimo 3 jogos para cada time transmitido na Sportv, uma empresa que tenha uma visão diferente vai ver que vale mais a pena investir no time do que pagar uma publicidade.
E caso o sonho se realize, o time precisará de um ginásio com uma quadra que consiga receber partidas de alto nível. E para isto, Guto se utiliza do convênio firmado entre a Confederação Brasileira de Basquete e o Ministério dos Esportes, que prevê a distribuição desse tipo de quadra montável.
- Hoje em dia para jogar basquete de alto nível se joga naquelas quadras, que são uma espécie de tablado. Existe um convenio da CBB com o Ministério dos Esportes para que todas as cidades tenham essas quadras, com placar eletrônico, tabela de altíssimo nível. Esse material custa R$ 350 mil, mas o convênio prevê que quem vai receber precisa pagar pelo transporte que custa R$ 23 mil e a gente não conseguiu aqui uma instituição que tivesse interesse de desembolsar os 23 mil reais. Uma vez a gente conseguindo chances reais de disputar a LBF, acho que seria fácil conseguir 23, 25 mil reais. Eles da CBB continuam dizendo que têm muito interesse de ter um time da Paraíba na LBF, porque teriam quatro times no Nordeste. Desde o ano passado que eles dizem que tem interesse, a gente já negociou até taxa. Só depende da gente agora.
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expectativas futuras e possível centro de treinamento
Após estender a marca para um outro esporte, o Espectros já planeja novos passos. E os sonhos são bem ambiciosos. O principal objetivo do time agora é ter seu próprio centro de treinamento e quem sabe um dia ter até um time de futebol profissional.
- Intenção de expandir mais existe, mas a gente não tem estrutura. Uma das metas principais do futebol americano é fortalecer o esporte como um todo, então a gente pensa em fazer escolinhas e projetos sociais, ambas com a modalidade flag (sem contato) e para criança pequena. Porque a gente tem um público na faixa dos seus 18,20 anos e a gente precisa já começar a rejuvenescer. A gente precisa completar essa pirâmide. Esse ano a gente já vai fazer uma seleção com jogadoers sub-19 e dependendo da quantidade de inscritos e da qualidades deles, a gente vai manter dois times ao mesmo tempo. Um adulto e um sub-19. E a meta principal do espectros para 2015 é conseguir aprovar um projeto via Lei de Incentivo Nacional para gente construir um CT de futebol americano e basquete em João Pessoa.

E Guto acredita que por conta de toda a trajetória do Espectros, o time hoje se tornou uma referência no esporte paraibano. E que a tendência é crescer ainda mais.
- Com certeza somos referências. A gente vê isto, tem várias evidencias disto, seja da maneira como a gente é tratado pela imprensa, pelas mensagens que chegam nas redes sociais... Hoje em dia você vê pessoas que não tem ideia de quem seja, usando a camisa do Espectros. Na segunda-feira, na terça-feira indo para a faculdade com a camisa do Espectros. Igual a gente faz com time de futebol, porque ganhou ou porque mesmo perdendo jogou bem. As pessoas realmente curtem e se identificam. Somos uma referência no esporte, sem dúvida nenhuma – finalizou.
Globoesporte.com
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