“Quando
encontramos comida no lixo é motivo de festa”. O relato, segundo o
padre Djacy – conhecido ativista que denuncia nas redes sociais as
consequências da prolongada estiagem no estado da Paraíba – é do chefe
de uma família da comunidade na cidade de Boa Ventura, no Sertão da
Paraíba, a 422 quilômetros da capital João Pessoa. A família migrou da
zona rural para as periferias da cidade, mas não encontra emprego e
sobrevive catando lixo.
O padre, que há quase dois meses está fazendo peregrinação solitária por
várias cidades do Vale do Piancó paraibano, conta que já presenciou
essas e outras situações dramáticas vivenciadas pela população por conta
da falta de água para consumo humano. Segundo os sertanejos, além do
sofrimento com a falta de água para beber, eles também não têm o que
comer.
De acordo com a Agência Executiva de Gestão de Águas do Estado da
Paraíba (Aesa), em 121 reservatórios monitorados, apenas três estão
transbordando. São 22 reservatórios em situação crítica (com menos de 5%
do seu volume total) e 33 em observação (com menos de 20% de sua
capacidade). Outros 65 estão com capacidade armazenada superior a 20% do
seu volume total.
Padre Djacy narra que o caso mais chocante foi da família de Boa Ventura
que trabalha catando lixo. “Estive em uma comunidade urbana de uma
cidade que as pessoas só comem o que encontram no lixão. Eles me
disseram que não têm do que se alimentar. Então, quando encontram resto
de comida levam para casa”, disse.
Nas redes sociais, o padre posta fotos e relatos para a série que ele
intitulou 'Nos Caminhos da Sede'. Na peregrinação, visita diversas
comunidades e conversa com as pessoas sobre os problemas que elas estão
enfrentando.
O padre afirmou que se deparou também com a miséria na qual famílias
rurais estão vivendo. Segundo ele, muitos moradores das cidades de Pedra
Branca, Igaracy, Piancó, Boa Ventura, Diamante e Santana de Mangueira
(municípios da região do Vale do Piancó) , vivem da agricultura de
subsistência, mas com a falta de chuvas, todo o plantio feito pelo
produtores, foi completamente perdido.
“Toda semana eu vou às comunidades rurais do Vale do Piancó e a cada dia
que passa aumenta o drama do povo no que diz respeito à falta de água.
Além da ausência do líquido, há falta de alimento para as famílias.
Muitas pessoas me falam que a situação é crítica na alimentação. Nesses
locais, a agricultura é de subsistência, com a plantação, por exemplo,
de arroz e milho, mas esse semestre a colheita foi zero. Eu vi a
colheita morrendo”, relatou.
Segundo o padre Djacy, o auxílio do programa federal Bolsa Família não é
suficiente para resolver os problemas que as famílias estão sofrendo.
“O programa ameniza um pouco, mas no Sertão, as casas têm até dez
pessoas, então 200 ou 300 reais não atende a todos. Além do Bolsa
Família, é preciso que o governo envie cestas básicas para essas
localidades”, sugere.
Para o padre, a única esperança dos sertanejos é a transposição das
Águas do Rio São Francisco. “Eu entro nas casas, converso, fotografo e
escuto os clamores deles. O que eu vejo é muita pobreza, muito
sofrimento. Eu sou uma testemunha ocular. É preciso agilidade na
transposição para resolver o problema da seca no Nordeste”.
Foto: Padre Djacy em uma das suas visitas para registrar a seca no Sertão
Créditos: Reprodução/Facebook/Padre Djacy
Créditos: Reprodução/Facebook/Padre Djacy
Esta semana, diretores e técnicos da Aesa estão percorrendo seis
municípios do Vale do Piancó para explicar a situação dos açudes e as
alternativas para a manutenção do abastecimento durante esse período.
Na cidade de Curral Velho o açude Bruscas, que comporta 38 milhões de
metros cúbicos de água, está com 43% da capacidade total. Em Itaporanga,
o açude Cachoeira dos Alves, pode armazenar 10 milhões de metros
cúbicos, mas hoje tem apenas 30% desse valor.
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