Entre um encontro com empresários chineses e um compromisso
pré-agendado, o governador Ricardo Coutinho (PSB) recebeu o Jornal
Correio para uma entrevista sobre o balanço dos últimos três anos de
mandato e o que pretende para 2014, quando inicia o quarto ano à frente
do Governo e o ano em que tentará a reeleição. Disse que, ao assumir o
Governo, em 1º de janeiro de 2011, a Paraíba não vivia “um estado de
normalidade”. Declara que chegou a perder apoios por não ceder a certos
tipos de pressão política para que o Estado pudesse avançar. E dispara:
“O Estado fazia a festa de muita gente”. Garante que 2014 será um ano de consolidação, conclusão e anúncio de obras.
A entrevista
- Na próxima quarta-feira, o senhor inicia o último ano de mandato à
frente do Governo da Paraíba. O que foi planejado, pensado, desde o dia
da sua posse em janeiro de 2011, que o senhor conseguiu realizar?
- É preciso ter um olhar diferenciado sobre uma questão como essa [em
relação aquilo que foi pensado no ano que assumiu e o que foi feito]. A
gente consegue olhar o que foi planejado e realizado, num estágio de
normalidade, mas a Paraíba não vivia um estado de normalidade. A Paraíba
vivia um desequilíbrio nas contas, na relação entre a folha de pessoal e
a Receita Corrente Líquida, o que é extremamente grave porque
inviabiliza o Estado perante qualquer tipo de financiamento.
A Paraíba não tinha nenhum projeto estruturante e vinha de uma eleição
muito marcada, que existe até hoje, infelizmente. Além de governar, tem
que se deparar com a disputa constante. E não é uma disputa que envolva a
lógica de ser situação ou oposição, é normal dentro de uma democracia,
mas de tentar inviabilizar o Governo. Esse foi o quadro com o qual eu me
deparei. Diante daquele quadro, eu tinha que primeiro trazer a Paraíba
para o que eu chamo de regularidade. Ou seja, fazer com que o Estado
cumprisse os compromissos, pagasse as suas contas, começasse a crescer
sua receita própria, mesmo no cenário econômico nacional difícil que se
delineou, e que reflete nos Estados e municípios, particularmente
naqueles que são dependentes do repasse do Fundo de Participação dos
Estados (FPE). Nós conseguimos fazer esse equilíbrio. Isso não quer
dizer que estamos com dinheiro sobrando, mas que o Estado abriu portas,
pode investir e ter um ritmo de crescimento maior que qualquer outro no
mesmo patamar que a Paraíba. Ao mesmo tempo, tivemos que começar a
operar três grandes eixos de Governo que assumi como compromissos de
campanha.
- Qual seria o primeiro eixo?
- O primeiro foi a democratização da gestão. A Paraíba não tem, na sua
história, alguma coisa que esteja situado no campo democrático popular.
Fizemos e estamos fazendo essa transição. Um exemplo disso foi o
Orçamento Democrático, revigoramos as nossas conferências, sem
interferência do Poder Executivo. Dei autonomia, às vezes até excessiva,
porque acho que ninguém foi tão atacado quanto eu, enquanto governador.
Mas acatei, calei, toquei o Estado à frente. Esse eixo da democracia
participativa, mesmo que não seja de pedra e cal, fez com que o Estado
ganhasse muito. Dar o direito as pessoas de fazer política, participar,
fora da época de eleição. E isso é fundamental.
- O segundo...
- O segundo eixo foi o da geração de renda. Conseguimos no terceiro ano
[de mandato] chegar aos R$ 48 milhões do Empreender, colocar na inclusão
produtiva, dos R$ 46 milhoes do [Projeto] Cooperar, quase que R$ 25
milhões. Estamos em curso com o programa de Desenvolvimento do Cariri e
Seridó, mais R$ 100 milhões. Ou seja, o eixo que faz com que as pessoas
possam, a partir do seu o esforço e com a ajuda do Estado, crescer a
economia debaixo para cima.
- O terceiro eixo seria...
- Um outro eixo, que acredito ser fundamental, é o da transição do papel
do Estado. Esse também não é perceptível. Os Estados que eram
profundamente dependentes, na sua economia, de um gesto ou de uma
perseguição do Governo, esses talvez reclamem. Mas essa transição é
essencial, pois a Paraíba se perdia na atividade meio e passou a focar
na atividade fim. Focar naquilo que está fora da máquina administrativa,
numa população, em que 97% não são servidores públicos, e precisa de um
hospital, de uma escola,
estradas, precisa de coisas essenciais para a sua melhoria de vida.
Esse Governo teve a coragem de fazer essa transição, que ainda não
acabou. O retrato dessa transição é hoje a Paraíba ter atingido, nesse momento,
R$ 4,4 bilhões de atração de investimentos privados. Em 2010, passando
pela Cinep, a Paraíba só conseguiu atrair R$ 22 milhões. Em três anos,
nós assinamos com grupos empresariais privados, a vinda deles ou
expansão no Estado, em torno de R$ 4,4 bilhões. Se você me perguntasse
se isso seria possível em dezembro de 2010, eu diria: não. Foi um salto
muito grande. Salto que vai fazer, daqui a três anos, com que o ICMS
ultrapasse o FPE. É o que eu chamo de libertação econômica do Estado.
Nós vamos ficar cada vez menos dependentes da União e mais dependentes
da nossa própria economia. Não é a toa que a Paraíba deve fechar 2013
como o Estado que mais cresceu o ICMS no Brasil. Estamos crescendo 17%. O
Governo tem tudo a ver com isso, porque ampliou o limite do Super
Simples, duas vezes seguida, numa época de crise. Ampliou e normatizou
os distritos industriais. Teve a capacidade de trazer três empresas de
Call Center, para gerar 11.200 empregos para jovens, e até trazer
estaleiro. E tem um porte que busca ter uma postura que eu digo, no
melhor dos sentidos, ofensiva.
Com Correio da PB
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