Complexo do Alemão pode ser ocupado de novo, diz secretário
3/09/2014 11:00:00 AM
As mortes de três policiais militares de Unidades de Polícia
Pacificadora (UPPs) do Complexo do Alemão, este ano, levaram o
secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, a não descartar
uma nova ofensiva na área, com o apoio das Forças Armadas e da Polícia
Federal. Segundo ele, já há cerca de 600 homens disponíveis, caso haja
necessidade de uma nova ocupação. Na última sexta-feira, ele se reuniu
com a cúpula das polícias para traçar uma nova estratégia para a região,
baseada em informações de órgãos de inteligência e de investigações
sobre as quadrilhas que estão atuando dentro e fora das favelas
pacificadas, na tentativa de atingir o programa das UPPs. — Primeiro, queremos uma ação mais racional e menos traumática.
Fazer uma reocupação com 500 ou 600 policiais não está descartado. Nos
reunimos no Centro Integrado de Comando e Controle da secretaria para
decidir sobre qualquer mudança de rumo. Não podem morrer mais policiais
da maneira que vem acontecendo. Não que a morte de um policial não seja
normal, pois são percalços da profissão. Mas estamos analisando todas as
possibilidades friamente. Será que não podemos pôr 500 homens no Alemão
ou no Juramento? Temos portas abertas em todas as instituições:
Marinha, Exército, Aeronáutica, Polícia Federal, além do nosso pessoal.
Temos que caminhar com o processo de pacificação, e ninguém vai nos
impedir. Se entendermos que precisamos de algo mais maciço nas
ocupações, iremos adiante — disse o secretário — Acho que ninguém deseja
que o tráfico volte a regular o preço da droga e a vida das pessoas
como antigamente — acrescentou. O último soldado vítima do tráfico no Alemão foi Wagner Vieira da
Cruz. No dia 28 de fevereiro, ele levou um tiro no rosto, cinco horas
depois de ter começado seu turno na Vila Cruzeiro. Após ser atingido,
ele passou uma semana internado no Hospital Estadual Getúlio Vargas.
Morreu na última quinta-feira, engrossando a lista de PMs de UPPs
mortos. Foram 10 desde 2008. Soldado recém-ingressado na PM é enterrado O soldado, que estava na Polícia Militar havia apenas 41 dias, e
sequer tinha recebido o primeiro salário, sonhava se casar em fevereiro e
ter um filho com a noiva, Fernanda Pinto. — Outro dia, o Wagner tinha desenhado um mapa do lugar onde dava
plantão e disse que ficaria acuado se alguma coisa acontecesse. Ele era
muito medroso. Dizia que queria se aposentar como PM em Copacabana,
ajudando velhinha a atravessar a rua. Vivia dizendo que ia pedir para
ser transferido — conta Fernanda. Em janeiro, Wagner foi diplomado pelo Centro de Formação e
Aperfeiçoamento de Praças, depois de passar um longo tempo sonhando em
fazer carreira militar. Formado em Sociologia pela Fundação Educacional
Unificada Campo-Grandense, via na PM “uma chance de crescer”. Aos 18
anos, havia se alistado no Exército, onde ficou até os 25. Depois,
trabalhou por outros cinco anos no Departamento Geral de Ações
Socioeducativas (Degase). Conhecido como um homem brincalhão, ele adorava ficar com a filha
Hanna, de 8 anos, fruto de um relacionamento anterior, e com os animais
que mantinha: um mico, coelhos, tartarugas, cachorros e gatos. Foi
enterrado no sábado de manhã no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap.
A família estava inconformada. A irmã, Renata, culpava o Estado. — Colocaram quatro recém-formados com um fuzil dentro de um contêiner. Que experiência eles tinham? — perguntava. O comandante das UPPs, coronel Frederico Caldas, disse entender a revolta da família: — Mesclamos policiais experientes com recém-formados nas unidades,
mas não significa que eles não tenham sido bem treinados. Fazemos isso
porque eles não têm vícios. Não planejamos mudar a estrutura das UPPs,
mas intensificar os cursos. O Globo
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