Duas alunas da Faculdade de Medicina da USP (Fmusp) relataram nesta terça-feira, 11, publicamente estupros sofridos em festas promovidas por alunos da instituição na capital. Os depoimentos foram feitos em audiência pública na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), que teve como objetivo denunciar casos de violência sexual na Fmusp e a existência de uma “cultura machista” nos trotes praticados contra calouros.
Foi a primeira vez que as alunas falaram sobre os episódios em público – depoimentos sobre os casos já haviam sido feitos anonimamente. Uma estudante do 4.ºano, de 24 anos, afirmou que sofreu dois estupros em 2011 em festas organizadas pela Associação Atlética Acadêmica Oswaldo Cruz (AAAOC).
Um dos episódios, segundo ela, aconteceu na semana de inserção de calouros. No fim da festa, ela foi abordada por um rapaz, que disse que a acompanharia, por estar embriagada. “Fui puxada para uma sala de materiais escura. Ele começou a me agarrar, tentar me beijar e abaixou minha calça.”
Outra estudante, que também preferiu não ser identificada, contou que sofreu estupro na festa Cervejada, em 2013, organizada pelos estudantes de Medicina. Ela disse ter sido abordada por dois alunos, do 4.º e do 5.º ano, que a chamaram para beber no carro de um deles. Quando a jovem foi até o local, disse ter sido agarrada. “Passaram a mão nas minhas partes íntimas. Eu gritei para que parassem e continuaram.”
A reclamação das estudantes é de que nenhum dos casos foi apurado e, ao fazer as denúncias, há perseguição dos alunos. De acordo com os estudantes de Medicina ouvidos na audiência pública, a violência sexual é “internalizada” na cultura da Fmusp logo no primeiro ano.
A aluna Ana Luísa Cunha, do grupo Geni, relatou a forma como os trotes são feitos. “Eles separam as meninas dos meninos, colocam elas sentadas no chão e formam uma roda em volta, em pé.” Na sequência, os rapazes – na maioria, veteranos – entoam um hino que faz apologia ao estupro.
Agência Estado
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